“Coloque mais idiomas na sua vida”

Por José Marcelo Freitas de Luna -  Doutor em Linguística (USP), especialista em Administração Universitária (OUI),  professor do Mestrado e Doutorado em Educação da Univali - - mluna@univali.br


por | 04/03/2020

O ano geralmente começa com conselhos e com muitas promessas de investimentos e melhorias para a nossa vida. Voltar a praticar exercícios físicos, reeducar a alimentação e retomar o hábito de poupar parte do salário ou da mesada estão entre os mais comuns.

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Destaca-se também aquele conselho ou aquela promessa de começar ou voltar a estudar uma língua estrangeira. Tal como o exercício físico, a boa alimentação e aquela reserva financeira, o aprendizado de idiomas é o que quase todos nós queremos e o que todos nós precisamos.

Se queremos e precisamos, por que, então, a maioria de nós está frequentemente  recomeçando, depois de intervalos de distância das escolas e dos livros de inglês, por exemplo? Perguntando-nos de outra forma: por que dependemos dos conselhos e das promessas comuns ao início de cada ano para (re)começar? A análise de dados de uma pesquisa de nossa autoria aponta como resposta a dificuldade de o indivíduo manter as motivações fundamentais ao ensino e à aprendizagem de uma língua estrangeira, quais sejam, a integracionista e a instrumental.

A motivação integracionista revela-se no gosto e no interesse duradouros e crescentes pelo que é ou parece ser dos países e dos povos que falam uma determinada língua. Indivíduos assim motivados tornam-se alunos não só dentro, mas fora da escola. Assistem a filmes; leem revistas e jornais nessa língua; querem falar com nativos e tentam imitá-los, na escolha de suas palavras e no seu sotaque. Alguns indivíduos assim motivados desejam viver por um tempo ou mesmo mudar-se para o país estrangeiro. De fato, com base na referida pesquisa, esses indivíduos amam a língua estrangeira, desejando integrar-se àquela cultura.  Constata-se também que esses indivíduos não interrompem tão frequentemente seus estudos, tampouco mudam tanto de escolas de línguas; os motivados integracionistas exibem ainda outra característica, a de se dedicarem a uma única língua, não estudando, costumeiramente, uma segunda ou terceira língua estrangeira.

Por sua vez, a motivação instrumental define-se pela noção de utilidade de uma língua estrangeira. Quando motivados instrumentalmente, os indivíduos querem aprender um idioma por precisarem, não por gostarem dele. Como alunos, eles geralmente procuram a escola e o professor para instruí-los o suficiente para uma viagem ao exterior, para a realização de um exame ou para outros fins específicos. Esses indivíduos costumam ter uma atitude negativa em relação aos países e aos povos que falam a tal lingua estrangeira. Tornam-se alunos que, quando supõem atingido o objetivo, deixam, em geral, o curso. Comportam-se também como alunos que atribuem ao professor e à escola a sua falta de progresso no idioma. A motivação instrumental costuma também mover esses mesmos indivíduos a estudarem duas ou três línguas.

“Coloque mais idiomas na sua vida”, chamada vista em propaganda de uma escola de línguas, soa também como um conselho para todos nós. Gostar quase que natural e intensamente de uma língua estrangeira é fundamental à relação ensino-aprendizagem. Igualmente importante para o professor e o aluno é a noção de que, com o conhecimento de idiomas, objetivos variados podem ser atingidos.

O ideal, portanto, é valorizar e dar lugar aos dois tipos de motivação. O ideal é que os indivíduos diferentemente motivados possam encontrar-se e interagir em um mesmo grupo, como na escola, na praia, na festinha, no trabalho e em tantos outros espaços de aprendizagem. O ideal é que haja troca de experiências e de conselhos entre aqueles que adoram o inglês, por exemplo, e aqueles que não gostam tanto “do idioma dos Estados Unidos”, mas que o estudam assim mesmo, porque precisam, como nós já precisamos e possivelmente gostamos do espanhol, do francês, do alemão, do mandarim ... .

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