Santa Catarina - Há exatos cinco anos a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) ingressava em um novo desafio: coordenar parte do maior projeto de monitoramento de praias do mundo. O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), realizado de Laguna (SC) até Saquarema (RJ) e nos três primeiros anos, a Univali foi a responsável técnica pela área que englobava os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, a chamada Fase 1 do projeto. Desde meados de 2019, com uma nova configuração no PMP-BS, assumiu apenas a região sul (Área SC/PR).
Para desempenhar a execução do projeto foram convidadas instituições que faziam parte da Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB). A Área SC/PR, que vai de Laguna (SC), até Pontal do Paraná (PR), foi dividida em seis trechos e cada trecho é executado por uma instituição:
- Trecho 1 (entre Laguna e Imbituba): Udesc,
- Trecho 2 (entre Imbituba e Governador Celso Ramos): Instituto Australis,
- Trecho 3 (Florianópolis): R3 Animal,
- Trecho 4 (entre Governador Celso Ramos e Barra Velha): Univali,
- Trecho 5 (entre Araquari e Itapoá) Univille, e
- Trecho 6 (todo o litoral do Paraná): UFPR.
Estas instituições já desenvolviam ações semelhantes e trabalhavam em prol do ambiente marinho. Com a criação do PMP-BS foi possível viabilizar melhores condições de trabalho, tanto em equipamentos para a realização do monitoramento, quanto em estrutura para atendimento dos animais resgatados. Ao todo, na Área de SC/PR, foram construídos dois Centro de Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos, duas Unidades de Estabilização de Animais Marinhos, um Centro de Reabilitação de Tartarugas Marinhas, além de uma base de apoio. Toda esta estruturação qualificou ainda mais o que já vinha sendo realizado e também fortaleceu a o trabalho em rede entre os mais de 160 colaboradores envolvidos diretamente no projeto.
O reitor, professor Valdir Cechinel Filho, destaca a atuação da Univali à frente da coordenação de toda essa rede de atendimento veterinário que envolve universidades e instituições. “O projeto e toda esta estrutura, além de ampliar e qualificar o atendimento dos animais marinhos, proporcionou aos profissionais envolvidos uma oportunidade ímpar de experimentação. Foram elaborados, nestes cinco anos, cerca de 150 trabalhos científicos apresentados em âmbito nacional e internacional, que contribuíram no estudo e preservação do ambiente marinho", ressalta.
Foto produzida antes da pandemia
Desde 24 de agosto de 2015 é realizado o monitoramento diário das praias. Só em Santa Catarina e no Paraná, já foram percorridos mais de 640.000Km em busca de aves, tartarugas e mamíferos marinhos encalhados, vivos ou mortos. Ao todo foram 51.526 animais registrados, dos quais 31.991 foram aves, 2.967 foram mamíferos e 16.568 foram tartarugas marinhas. Cada um destes animais foi devidamente analisado e caso estivessem em fase inicial de decomposição, passaram por necropsia para estudo da causa da morte, e quando vivos são atendidos no local ou encaminhados para os Centros/Unidades respectivas do trecho onde foram localizados.
Infelizmente a taxa de animais encontrados vivos ainda é muito pequena. Apenas 1.634 animais passaram por todo processo de reabilitação e foram devolvidos a natureza. De todas as necropsias realizadas, em pouco mais da metade não se conseguiu identificar a causa de morte, devido ao estado de decomposição das carcaças. Para a demais os resultados apontaram que 68% dos animais morreram de causas naturais, já 24% apresentaram algum sinal de impacto causado por atividades humanas, como interações com embarcações (cortes por hélice, sinais de colisão), com óleo, com a pesca, ou mesmo por ingestão de plástico.
No âmbito da ciência, ainda é cedo para apontar afirmações relacionadas ao grande número de animais que já foram encontrados debilitados ou mortos na região que abrange o PMP-BS. Porém a criação deste banco de dados, fruto deste intenso esforço diário que é realizada pelos profissionais envolvidos no projeto, futuramente poderá apontar caminhos que auxiliarão em um novo olhar para o ambiente marinho. "O PMP-BS é fundamental pois somente a partir de 2015 passamos a ter uma ideia real da mortalidade e quantidade de encalhes de animais marinhos na área abrangida pelo projeto. Os dados coletados no PMP-BS servirão como uma linha de base para se poder, no futuro, avaliarmos possíveis mudanças nos padrões de encalhes e identificar o que realmente faz parte da normalidade do ambiente marinho", André Barreto, coordenador geral do PMP-BS Área SC/PR.
PMP-BS
O PMP-BS é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos.
Tem como objetivo avaliar possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos encontrados mortos.
O PMP-BS é realizado desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), sendo dividido em 15 trechos. Atualmente a Univali coordena a Área SP/PR.
*Fotos: Deborah Boeira